Os Sapatos do Meu Avô

Corri o máximo que pude pela Avenida Central, aquela que corta a cidade ao meio, sabe? Estava com uns sapatos que vovô deixara pra mim, e eles eram bons pra burro pra esse tipo de coisa. Vovô era florista e vivia a correr para fazer algumas entregas e ele nunca se atrasava; sobretudo em época de riqueza; todo mundo queria comprar flor pra perfumar a vida e ainda de quebra se declarar para alguém. Não se isso funciona hoje em dia. As almas andam bem secas, sabe? Acabaram-se as almas molhadas de outros tempos. Hoje em dia, não se pode conversar; conversar de verdade que já vira intimidade e isso anda proibido por essas terras. Mas me conta o porquê de você correr tanto. Espera, já lhe conto, mas eu insisto nisso. Que se faça presente nesse relatório que eu afirmo que não existe mais um ser vivo nesse planeta chamado Inverno! Calma, senhor, não precisa gritar... Desculpe-me, meu jovem, mas eu preciso te dizer algumas verdades. Antes de eu vir para nesse Tempo, eu vivi numa época em que as pessoas queridas se tocavam, se abraçavam, se beijavam e exageravam de amor umas pelas outras. Peço-te perdão, mas esse assunto me acalora os nervos. Sem problemas, senhor. Eu preciso de uma resposta: Por que o senhor estava correndo nu pela Avenida Central com os sapatos do seu avô?

De quem você está falando? Eu jamais correria dessa forma na Avenida Central, aquela que corta a cidade ao meio. Você me respeite, por favor! Mas senhor... Todos viram quando o senhor pegou aquela bandeira branca com um tremendo coração gigante, gritando: “Sorriam seus moribundos! Vivam! Viva o amor! Vejam! O amor ainda existe!”


Que cena linda você me descreve, meu jovem! Queria eu protagonizar tamanha realização na Avenida Central, aquela que corta a cidade ao meio. Meu avô, o florista, ficaria orgulhoso de mim. Vejam só! estou com os sapatos dele! Os objetos têm alma... Já contei que ele era florista? Já sim senhor. Puxa, como sinto sua falta, vovô! Por favor, senhor... Não chore. Não há como evitar. Eu preciso contar ao senhor que essa foi a 25° vez em que tivemos que correr para que não fosse atropelado na Avenida Central, aquela que... Sim! Já sei que ela corta a cidade. Mas não acredito em você, meu jovem. Eu jamais faria algo assim. Agora eu preciso... Por favor, devolva minha bandeira, antes que eu esqueça. 






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