Attack on Titan e Porque está na Hora de Mover seu Lindo Bumbum

















Contém spoiler. Não é análise crítica da obra*

Attack on Titan é visceral. Trata-se de mais uma história com a característica dos tempos atuais: não há intenção de idealizar as situações, sejam românticas ou heroicas. Tudo é cru, chegando a beirar o estágio em que surge um incômodo por cenas bizarras.  Trata-se de um mundo onde humanos vivem cercados de muralhas, pois fora delas vivem os titãs, os quais são simplesmente gigantes de 3,5 a 100m que existem apenas para comer humanos (ao menos até agora é o que parece). Eles ignoram todo o resto, porém nenhum humano é deixado para trás. O que acontece é que no primeiro episódio, dois titãs diferentes dos demais fazem um buraco na muralha grande o suficiente para os outros passarem. Daí começa tudo. Então, se você vai embarcar nessa jornada, prepare-se para ver humanos sendo dilacerados e engolidos vivos sem a menor piedade. Aquela personagem que você gosta? Comida inteira e em câmera lenta. Aquele outro que parecia que ia resolver os problemas? O titã morde da cintura pra cima, mastiga e depois engole o resto. A inocente que não faz mal a ninguém? Esmagada numa árvore como um mosquito. E por ai vai... Desaconselho qualquer criança a assistir.
Se é tão brutal, por que assistir? É intrigante e te agarra justamente pela tensão criada a cada novo acontecimento. Eu mesmo me peguei, naquele instante entre episódios, com receio de dar play no próximo, pois me encontrava diante de uma seqüência de inacreditáveis catástrofes e receava pelo que estava por vir, todavia, do mesmo jeito que o mangaka, Hajime Isayama, judia de sua audiência, como Martin faz em Game of Thrones;  o roteiro é igualmente intricando de maneira a te fazer querer saber o que vai acontecer apesar do que acabou de presenciar. A intensidade dramática de AOT vicia e leva tempo para se desacostumar a ela, mas, acima de tudo, o que me chamou atenção foram as mensagens poderosíssimas, surrando o comodismo que todos nós temos diante das situações que nossa sociedade apresenta todos os dias.
Bom, para ressaltar as mensagens, primeiro é preciso explicar o contexto.
Em AOT existem três muralhas gigantes construídas para isolar os humanos dos titãs:

1ª Muralha – Maria    2ª Muralha – Rose    3ª Muralha – Sheena.
Obviamente, assim como nos castelos medievais, cada muralha é um reforço na defesa, mas o que acontece também é que a população também é dividida por castas, indo dos mais pobres aos mais poderosos de fora para dentro. Logo, diante da invasão dos titãs, quem sofre primeiro são os mais pobres. Os poderosos só vão ver um titã de verdade quando a maioria menos favorecida já foi quase que totalmente consumida.
Também há três forças que formam uma espécie de corpo militar humano:
Reconhecimento – são os poucos corajosos suficientes para sair das muralhas em missões por N razões.
Tropas Estacionárias – patrulham cidades e as muralhas. Responsáveis pela defesa humana contra titãs.
Polícia Militar – patrulham apenas o quadrante mais interno das muralhas.
Diante disto, vamos ao tema real do texto que são os tapas na cara dados por Attack on Titan.


1- Altruísmo é para ser praticado e não reconhecido
É mais do que comum vermos pessoas que praticam algum tipo de altruísmo achando que merecem um tapa nas costas por ter feito tal coisa. Só que não é assim que acontece na maioria das vezes. Altruísmo é importante em qualquer lugar, de qualquer maneira, mas faça por você, pelo que você acredita e pelas pessoas que vão se beneficiar, jamais para ser reconhecido. Um gesto humanitário é para melhorar ou ao menos ajudar a vida de terceiro(s). Demandar reconhecimento é negar a boa intenção e mostrar que na verdade o que se deseja é puro marketing pessoal. Isso fica claro no momento em que o protagonista, Eren Yeager, que é uma espécie de “O Escolhido”, descobre o corpo de um companheiro dele pela metade muito depois que esse tinha morrido. Enquanto Eren ganhava reconhecimento de todos os humanos por ter uma habilidade especial, seus demais companheiros nem sempre tinham seus esforços reconhecidos, sendo até mesmo deixados para trás. Se todos estavam ali com o mesmo objetivo, colocando suas vidas em risco da mesma maneira, por que uns eram reconhecidos e outros não? Bem, essa é a sociedade humana, acostume-se.

2- Pessoas mais capacitadas: ajuda ou conforto?
Para mim, esse é o maior questionamento de AOT, principalmente para nós que vivemos no Brasil com sua máquina estatal imensamente gigantesca e pouco produtiva. No anime, os que se saem melhor nos treinamentos, que dão entrada às forças armadas, tem o direito de poderem escolher ingressar na Polícia Militar. Assim dá-se o seguinte cenário: os poderosos já são os mais protegidos pelas muralhas e ainda por cima criam mecanismos para que os combatentes de melhor desempenho fiquem restritos ao seu último quadrante, pois a PM só trabalha no último quadrante humano, dentro da Muralha Sheena, onde vivem os grandes aristocratas, grandes burgueses, altos membros do clérigo e a família real.
É mais do que claro que os melhores deveriam estar guardando os pontos mais vulneráveis, logo, deveriam estar posicionados nas extremidades da primeira muralha, mas não é isso que acontece. Lembra do Titanic? Salvem primeiro os integrantes da primeira classe, depois, se der, vemos o que pode ser feito pelos outros. É isso.
No Brasil vivemos uma cultura do concurseiro, em que pessoas altamente capacitadas escolhem trabalhar em cargos burocráticos do governo em que pouquíssimo se produz e muito se ganha, com benefícios que pouquíssimos trabalhadores privados poderão ter na vida, e tudo com dinheiro de impostos, ou seja, do povo. Ao invés do governo fomentar a iniciativa livre, para que pessoas altamente capacitadas possam produzir melhoramentos à sociedade, o que temos são mestres e doutores ganhando muito para fazer muito pouco. Escolhem a vida de conforto ao invés do esforço pela melhoria. É um pensamento totalmente individualista. É errado? Não diria que é errado, pois se trata de uma opção individual. Mas o que posso afirmar é que nenhuma sociedade no mundo aumentou seus padrões de vida nesses moldes. Todas foram com esforço de muitos em prol de um bem geral. Obs.: jamais incluiria nessa lista de “pessoas em cargos burocráticos” profissionais da educação, saúde e segurança. Essa lista é feita geralmente de gente que trabalha em órgão administrativo, desempenha sua função num escritório, ganhando mais de R$ 7 mil para tal.
A consequência desse mecanismo é que a Polícia Militar do anime é extremamente corrupta, pois todos ali pensam apenas em si mesmos. Funcionário público corrupto? Acho que você já viu isso em algum lugar, né? Caberia uma Lava Jato em Attack on Titan.
3- A vida é bela e cruel
Esse é um dos lemas que leva Eren adiante. A vida é feita de vários eventos e vão existir um bom número de desgraças e infelicidades na sua vida. Ela é assim e nunca foi diferente disso, mas não é por isso que se deve entrar em desespero. Apesar de tudo que acontece, de todas as desgraças, injustiças e similares, a vida é bela. O esplendor da natureza em cada grão de pó, uma criança sorrindo, a possibilidade de estender a mão e ajudar alguém, fazer alguém sorrir, exercer a solidariedade, amigos, família. Tem muita coisa boa ao nosso alcance e o melhor é que a maioria delas é simples.
Note, a vida é bela E cruel. Não, bela, mas cruel. É importante notar essa diferença. Um não anula o outro. Por melhor que você esteja, tudo pode mudar em um instante. E por pior que o cenário se apresente, há uma saída dele.

4- Nunca sabemos se vai dar certo
Não há como ter exatidão numa previsão que envolve ações humanas. Tentamos sempre prever tudo que nos envolve, para que sempre possamos desempenhar o que julgamos ser melhor, mas nem sempre isso é possível. É necessário saber lidar com os imprevistos, mas, acima de tudo, nunca desista de antemão de alguma coisa por achar que ela não vai acontecer. Faça e veja no que dá. 

5- Nunca desista de sua liberdade
Desde o início do anime o batalhão do Reconhecimento é minimizado por todos os outros cidadãos, pois, diante da enorme capacidade dos titãs em dizimar os humanos, eles nunca obtém êxito em suas missões e sempre muitos deles morrem. Sob a ótica da população, gastam vidas e dinheiro público para quase nada. São ridicularizados pelos outros batalhões, que os consideram malucos por acharem ok a opção de entrar no território inimigo.
Brasão do  Reconhecimento

A questão aqui é que o Reconhecimento é quem faz pesquisa sobre os titãs e tenta combate-los. Tudo isso para conseguir modos de vencer essa batalha. Essas pessoas são a personificação do sentimento humano de descobrir, desenvolver, quebrar barreiras. Todos que entram nesse batalhão o fazem por desejarem que os humanos deixem de ser reféns dos titãs, voltarem a ter liberdade de viajar pelo mundo, conhecer novos horizontes, terrenos, plantas, animais e ter todas as sensações que um mochileiro pode ter numa viagem continental. Eles vivem enclausurados num território porque uma força maior os obriga a isso. O Reconhecimento é o grito de liberdade dos humanos; é a revolução. Cada membro desse batalhão guarda o mesmo sentimento que cada revolucionário em nossa história tem ou teve. Desde raiva por injustiças sociais até o desejo de liberdade plena. Manter o Reconhecimento é não deixar a chama da esperança apagar. Deixa-lo findar é aceitar a situação de ser subjugado e nunca sair dela.
A luta do Reconhecimento é a mais nobre do anime e dá aos seus membros a capacidade de saber lidar com as piores situações, pois são os únicos que tem experiência em combate com os titãs quando começa a invasão. Enquanto muitos integrantes dos outros batalhões até mesmo entram em choque quando a cruel realidade bate à porta, os integrantes do Reconhecimento mantêm-se firmes na luta, pois a cruel realidade é o dia-a-dia deles. Seja o Reconhecimento onde você vive.

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