19 horas
Subi no topo do prédio, como com frequência. A noite acompanhava
um vento gelado que me arranhava o rosto. Comecei a imaginar a vida de cada
pessoa que via nas janelas dos outros prédios. O que gostavam, suas qualidades,
seus defeitos, sua comida favorita, seus diálogos com uma segunda ou terceira
pessoa que entrava em cena.
Certa vez vi a Liza discutir com o namorado. Ele chegou
tarde em casa e ela socou a almofada do sofá, assim que ele entrou na sala,
tarde da noite. O berro foi acompanhado de um impulso que a levou para cima
dele, mas que a fez parecer tão pequena, quando se encolheu em seus braços e
começou a chorar copiosamente. É claro que isso pode não ser verdade, já que
foi um diálogo imaginado e porque a Liza estava com o rosto inchado de manhã. É
claro que Liza provavelmente não é seu nome de verdade.
Outro dia, Marcela chegou mais cedo do trabalho e encontrou
o filho limpando a casa. Era seu aniversário e ele quis dar um presente pra
mãe. O Carlos cresceu sem pai e a Marcela sempre fez de tudo por ele e pra ele.
Ao chegar em casa, seu rosto de felicidade foi contagiante! O interessante é
que Carlos já tem 18 anos e presenteia com o que lhe é obrigação. Mas é claro
que isso nem é da minha conta e muito provavelmente o Carlos queria um favor,
mas isso também não é da minha conta. É claro que ele pode ser o namorado da
moça a quem chamo de Marcela, mas isso é mais uma coisa da minha imaginação.
Ontem avistei o rapaz que sobe com frequência do topo do
prédio. Era noite que acompanhava um vento gelado, que certamente lhe arranhava
o rosto. Penso que ele imagine a vida das pessoas que ele passa observando nas janelas, assim como eu imagino que assim ele o faça. Mas é claro que o rapaz nem deve fazer isso, já que é coisa da minha imaginação.
Deixe uma blogueira feliz, faça um comentário!
Assine o nosso blog e receba nosso texto direto no seu e-mail!
Comentários
Postar um comentário