Por que Precisamos Falar Sobre Masculinidade? ( parte III) - Machismo Benevolente e Igualdade

Ao longo de algumas séries de crônicas, tenho tentado refletir acerca da Masculinidade; Objeto que já marcou presença em duas partes(Links no final do post) aqui no Discursos Pedestres

Um dos atravessamentos que emergem quando falamos em Masculinidade é o machismo, aqui sendo aplicado enquanto instituição, conceito, e que, como já estressado na parte dois dessa série, só existe porque os homens o fazem. O machismo existe pelo fato de o homem o praticar, não como evento dotado de casualidade, mas o tempo todo, de diversas formas e, segundo Bourdieu nos adverte, apesar de existir uma construção que se converte em hábito, as pessoas fazem o que fazem intencionalmente. É possível um ato desinteressado? Bourdieu nos propõe. 

Uma dessas diversas formas de machismo, que em sua sutileza, reforça a posição subalterna da mulher em relação ao homem, é o machismo benevolente



                            "Venha, minha deusa..." - Mãe! (2017)


O machista benevolente tem algumas marcas que apesar de parecem invisíveis, demarcam um território, onde ele se veste como um ser dotado dos melhores predicados, enquanto que a sua companheira é sempre alguém que está abaixo do discurso, se pensarmos em alguns casos concretos, como quem vai dirigir o carro do casal, quem vai trocar a lâmpada ou fazer algum trabalho "pesado", ou quem vai conversar com o filho sobre sexo; nesses casos, a mulher é sempre posta como sendo inapta ou incapaz, por ser mulher.  Seguindo o mesmo raciocínio, vez ou outra, ele, em sua benevolência, decide dar uma "ajudinha" para a sua "deusa", para a "rainha do seu castelo". 

                                    
                                      

"Hoje eu vou cozinhar!"


O machista benevolente ao simplesmente fazer uma tarefa doméstica básica e por se achar o Rei do castelo sendo sempre servido por sua deusa, reforça sua atitude corrosiva a cada vez que acha que está fazendo uma atividade que vai além da sua obrigação enquanto macho dominador. 

O machismo benevolente não admite as limitações de uma mulher, enquanto sendo um ser dotado de potencialidades, (aqui incluo a fraqueza enquanto força, como nos ensina Deleuze) e independente; sendo assim falho e que por conta dessa estrutura machista que está posta na sociedade pela ação dos homens, é violentada simbolicamente a cada vez que é posta em posição de deusa, perfeita e é a todo momento relembrada da sua posição de perfeição por meio de elogios que são feitos com o interesse de apaziguar alguma situação e para ganhar terreno, tendo como objetivo final a garantia que haverá sexo no final do dia, não importando se a parceira quererá ou não. 

Em muitos aspectos, devemos salientar, o machista benevolente é mais danoso e perigoso do que os machistas escrotos. Ele sabe o que dizer, quando dizer e tem um cálculo mais ou menos elaborado do que irá receber em troca. Ele trabalha como um estelionatário, usando algumas máscaras, jogando e tentando tirar benefício das pessoas que ele aborda. 


Os argumentos que citei acima devem ser suficientes para demarcarmos quem são os machistas benevolentes e como procedem. Contudo, além de apontar quem são, gostaria de, assim como nos outros textos sobre essa temática, dar uma saída para nós homens que agimos dessa forma: Autorreflexão, reificação, vigilância e paciência. Da mesma forma que, como apontei nos primeiros textos, a machismo fora construído e aprovado por conta do Habitus, há uma margem de manobra para que pouco a pouco, por meio de reflexão, diálogo e ação a gente comece a mudar e nossa presença passe a ser menos daninha e perversa para as mulheres com quem nos propomos a conviver. 


Ter esse tipo de reflexão resulta na igualdade com quem você se propõe a ter uma relação (sentido amplo), não mais vertical, mas agora horizontal, onde a mulher sai da posição de uma deusa infalível e sempre disposta, para um ser humano que é tão limitada quanto qualquer outra pessoa e te tira da posição de comando para uma parceria vitoriosa e que, por conta do diálogo constante, o
será o mais igualitária possível. 


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SITES RECOMENDADOS:
http://gwillowwilson.com 
https://discursospedestres.blogspot.com.br/2017/09/por-que-precisamos-falar-sobre.html ( parte II) 
https://discursospedestres.blogspot.com.br/2017/08/por-que-precisamos-falar-sobre.html  (Parte I )
https://medium.com/mulheres-que-escrevem/a-autonomia-das-mulheres-imperfeitas-e-finitas-4e6611b63deb 


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