Qual é o papel da Mulher? - Feminismo e o trabalho doméstico




Entre os muitos debates que o movimento feminista trouxe, considero, sem dúvidas, ser a relação da mulher com o trabalho doméstico um dos mais interessantes. E é sobre essa relação problemática que esse texto irá tratar. 

Numa rápida puxada de memória, podemos perceber que desde sempre vemos mulheres encarregadas dos afazeres do lar, pelo menos como principais responsáveis pela realização deles. A associação da mulher ao trabalho doméstico passou por muito tempo despercebido, ou se percebido, não contestado. Isso porque além dessa relação ser naturalizada é também estrutural. 

O trabalho doméstico é quase exclusivamente obrigação da mulher, tendo como motivo puro e simples ser mulher. Mesmo que elas não os façam, subentende-se que são as “intendentes” dos serviços domésticos. Você pode pensar que não, porque na sua casa o trabalho é dividido e os homens que nela moram ajudam nas tarefas.

Primeiro: por favor, não existe ajudar nas tarefas de casa, uma vez que se você mora na casa, você não está ajudando, você está participando e fazendo para você mesmo; você não faz para ajudar, você é parte da casa. Segundo: partimos do pressuposto que se todos moram na casa, todos comem, tomam banho, dormem; logo, todos também têm os mesmos deveres sobre ela. Terceiro: mesmo que os homens da casa realizem os trabalhos domésticos, em todos os casos - ou quase todos os casos - as mulheres continuam sendo responsabilizadas por eles. A demanda é maior para ela. 

Mesmo que o homem lave a roupa, a mulher é indiretamente responsável por saber quando a roupa será lavada, se o sabão em pó é suficiente para o mês, por exemplo. Se há filhos, a responsabilidade maior com a criança também continua sendo da mulher - cozinhar para a criança, alimentá-la, arrumá-la, auxiliar nas atividades da escola. Não é fazendo uma vez por dia, por semana, por mês que se torna responsável pela tarefa. Ou seja, não é simplesmente realizar os trabalhos da casa na freqüência que eles requerem, é se sentir responsável por ele. Talvez essa seja a diferença.

Quando eu era criança os bilhetes da escola vinham remetidos exclusivamente às mães, com o singelo vocativo “mamãe”. Mas quando o assunto era de cunho financeiro, era endereçado aos “papais”. E, pelo menos em algum dia você já ouviu “cadê a mãe dessa criança?” ou “essa criança não tem mãe?” quando alguma criança fazia qualquer estripulia. A mãe e o pai são igualmente responsáveis pela criança, mas a idéia de que a mãe tem uma maior obrigação com a criança ainda é comumente percebida. 

Por falar em criança, desde quando éramos uma fomos acostumadxs e ensinadxs a atribuir tarefas aos sexos ou gênero às tarefas. Há “coisas de menina” e “coisas de menino”. 

Quem cresce numa família que se tem irmãos meninos essa diferenciação é explícita. Eu, menina, quando me era encarregada a alguma tarefa doméstica, era para “substituir” minha mãe. Lavar louça, tirar o pó, varrer a casa: tarefa da mulher.  A obsoleta e ainda presente ideia de que mulher tem que saber cozinhar e passar e lavar e cuidar da casa e cuidar dos filhos e cuidar do marido e saber ser mãe e isso e aquilo. 

Fatidicamente em algum momento da vida meninas começam a ouvir que “mulher tem que saber fazer” tal coisa. Essa é aquela frase prima da “hummmm, já pode casar”. Nem vamos entrar no mérito de que se você quiser cozinhar, passar, lavar, ser mãe, casar, está tudo lindo também. Afinal, se você quer, você pode e deve. O problema está em fazer disso uma obrigação, como se para ser mulher precisássemos atender a alguns requisitos. Não tem que ser assim. Quem diz o que quer e o que não quer somos nós. Nós somos donas de nós e vamos fazer aquilo que sentimos bem.  

Dou um respiro de alívio quando vejo que o assunto é debatido, quando vejo meninas mais novas entendendo que essa lógica é problemática, quando vejo primas adolescentes entendendo que essa relação não é natural, não pode ser, não tem que ser. Por ser estrutural, por ser discreta algumas vezes, a prova que o jogo pode virar é quando notamos que não estamos quietas – e não queremos estar.




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